Monday, May 28, 2012

Italian pop music heaven - 1958-1967


Caterina Caselli in 1966.

A musica popular italiana mudou muito com o aparecimento do "rock and roll" norte-americano na Itália circa 1957 e já em 1958 fazia-se notar a grande influência yankee principalmente na voz de Tony Dallara em "Come prima", apresentada em San Remo '58 (o mesmo ano de "Volare" de Modugno), inspirada nas baladas dos Platters, grupo negro de rhythm & blues. Neste ano a Itália viu a invasão do rock americano nas pessoas de Elvis Presley, Paul Anka e Connie Francis.

Os cantores Italianos identificados com o rock eram chamados pejorativamente de 'urlatori' (gritadores) pela crítica jornalista conservadora. Tony Dallara era acusado de imitar Tony Williams, o crooner dos Platters. É irônico que os próprios Platters gravariam uma versão em inglês de "Come prima" (For the first time) em seu album "Flying Platters" ainda em 1958. Note que no mesmo album aparece "It’s raining outside" (Chóve lá fora) do brasileiro Tito Madi.

1959 foi praticamente uma continuação de 1958, com Modugno vencendo San Remo novamente com "Piove" (Ciao ciao bambina). The Platters ficam 11 semanas em 1º lugar na Península com "Smoke gets in your eyes", Paul Anka retorna com "Put your head on my shoulders", agora competindo com Neil Sedaka com "Oh! Carol" e o aparecimento de Adriano Celentano, que viria a ser o "Elvis Italiano" com "Il tuo bacio è come un rock", que o "tio" Teddy Reno se apropriou e cantou durante suas tournees pela America do Sul.

Em 1960 surgem mais "urlatori" como Mina com "Tintarella di luna" - que se tornaria "Banho de lua", um mega-sucesso no Brasil numa versão super bem-bolada de Fred Jorge, cantada por Celly Campello, a rainha do rock nacional. Mina viria a se tornar a maior cantora popular do País durante do resto do século.


Peppino di Capri, um urlatore "rockeiro" de Napoli emplacou um 1º posto com "Nessuno al mondo". Todos esses se juntaram ao Tony Dallara, que ainda reinava supremo, tendo vencido San Remo 1960 com 'Romantica', um rock-balada que poderia facilmente passar por 'versão' de sucesso americano, tanto que o taubateano Tony Campello gravou a versão 'Tu és romântica" em português.

Interessante que esses "urlatori" que surgiram em 1959 e 1960 seriam os cantores que dominariam a cena musical Italiana até praticamente o final do século; algo parecido aconteceu no Brasil no ano de 1966 com o surgimento de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e companhia.

1961 foi o ano de Nico Fidenco com "Legata a un granello di sabbia", que viria a ser a primeira musica Italiana a fazer sucesso aqui no Brasil dois anos depois (1963). Naquela época era comum demora de 6 até 18 meses para um sucesso viajar de um país para outro. O interessante de "Legata" é que a canção foi desclassificada em San Remo e depois, re-lançada pela RCA Italiana, foi o disco mais vendido daquele ano, além de ter conquistado a Europa inteira, tornando-se o primeiro disco italiano a atingir a cifra de 1 milhão vendidos. Isso mostra que esses festivais canoros podem errar redondamente.

Em 1961, "Al di là", defendida por Luciano Tajoli e Betty Curtis vence San Remo, mas 'não leva', pois o maior sucesso do Festival foi "24.000 baci", 
um rock 'scatenato' (movimentado) com  Adriano Celentano em dobradinha com Little Tony. "Al di là" iria ter que esperar Emilio Pericoli cantá-la em "Candelabro Italiano" (Rome Adventure) para fazer sucesso mundial, chegando ao 6º posto na parada da Billboard, fato nunca mais igualado por nenhum italiano, nem a própria Rita Pavone, que emplacaria "Remember me" num distante 26º posto em 1964.

Em 1962 o rock Italiano continua firme com Adriano Celentano e Peppino Di Capri. Tony Renis com sua 'Quando Quando Quando', não vence San Remo, mas foi o maior sucesso, tanto na Italia quanto no resto do mundo. Parecia que San Remo estava sempre atrasada um ano. San Remo sempre acabava premiando quem vendera mais discos no ano anterior. 


Ornella Vanoni surge cantando "Senza fine", Edoardo Vianello com o rock "Guarda come dondolo"; Peppino Di Capri divide com Chubby Checker a honra de cantar "Let’s twist again". O twist reina na Península e no mundo. No finalzinho de 1962 surge o fenômeno Rita Pavone com "La partita di pallone".

Em 1963Tony Renis ganha o Festival di San Remo com "Uno per te", uma canção irrelevante. San Remo continuava a premiar com atraso, dando o prêmio àquele que foi 'injustiçado' no ano anterior, mas que não era, necessariamente, o melhor no ano em curso. 


1963 foi ano de Rita Pavone, a maior sensação dos "urlatori" desde o surgimento deles em 1958. Logicamente Mina continuava a fazer sucesso, mas Rita era algo extremamente novo! Por falar em Mina, ela estava grávida e não pode fazer o "Studio Uno" daquele ano, e a novata Pavone foi chamada às pressas para substituí-la... e o resto é historia. 

1963 também foi o ano que o Cantagiro, uma competição realizada no verão, realmente se massificada. Veja a foto abaixo, Peppino Di Capri, que acaba ganhando com 'Roberta', é dado um tratamento real na sua chegada a uma das cidades que estavam no itinerário do 'giro canoro'.

Peppino Di Capri em momento de glória no Cantagiro 1963, que vence com 'Roberta'.

Em 1964, o maior sucesso de San Remo é "Una lacrima sul viso", com o novato Bobby Solo, mas quem vence é (a também novata) Gigliola Cinquetti com "Non ho l’età". Rita nunca pisou em San Remo e tampouco Gianni Morandi, que arrasou no verão de 64 com "In ginocchio da te". Nessa altura o mercador fonografico italiano era tão dinâmico que vários singles já tinham atingido a cifra mágica de 1.000.000 de cópias vendidas - algo que demorou muito tempo ainda para acontecer na America Latina.

Me lembro que quando The Clevers retornaram da tournèe que fizeram acompanhando Rita Pavone no verão italiano de 1964, eles deram uma entrevista a uma radio paulistana se dizendo 'encantados pois na Itália só havia musica jovem'... até os velhos cantavam "musica jovem". Aqui os principais sucessos de '64 na Peninsula:

1964

1. 
"Una lacrima sul viso" - Bobby Solo;
2. "Cin cin" e "La mia festa" - Richard Anthony;
3. "Amore scusami" - John Foster, il cantante giornalista etc.
4, "Ogni volta" - Paul Anka;
5. "É l’uomo per me" e "Città vuota" - Mina;
6. "Con te sulla spiaggia" - Nico Fidenco;
7. "Quando vedrai la mia ragazza" - Gene Pitney;


Em 1965 não dá outra: quem vence San Remo é o "injustiçado" do ano anterior, Bobby Solo, com "Se piangi, se ridi", mas a gravação de Mina (como sempre) é melhor que a original. Mina participou de San Remo em 1960 e 1961 e nunca mais pôs seus pés lá. Todo ano ela assistia a competição pela TV, marcava num caderninho as musicas que ela mais gostava, independente de serem classificadas ou não, ia para o estúdio da Ri-Fi e gravava uma ou duas. Assim foi com "E se domani", "Se tu non fossi qui" etc. 


Aliás, 1965 foi mais um ano brilhante de Mina, que comandou "Studio Uno" depois de um hiato com a gravidez de seu filho. Mina tem seu melhor ano com "Un anno d’amore", "E se domani", "L’ultima ocasione", "Ora o mai più", "Un bacio è troppo poco", a lindíssima "Soli" tema de encerramento do programa de TV e a bravíssima "Brava" composta especialmente para ela pelo maestro Bruno Canfora, mesmo autor de "Fortissimo" e "Quanto sei antipatico".

Em 1965 a Italia começa a se 'britanizar' com uma verdadeira "Invasão da Musica Inglesa". Os jovens italianos - i giovanissimi - não se contentavam somente com o rock local, mas queriam também o produto original... e nas paradas de sucesso se ouviam Beatles ("Help", "I should have known better", "Yesterday"), Rolling Stones ("Satisfaction"), the Byrds ("Mr.Tambourine Man"), the Animals  ("The house of the rising sun") para citar apenas alguns.

Também começavam a aparecer conjuntos de rock Italianos chamados de "beat". Os pioneiros foram I Ribelli, Equipe 84 e The Rokes, conjunto inglês que se fixou na Itália e cantava um italiano com um forte sotaque britânico. Havia um "night-club" em Roma chamado Club Piper onde essas novas 'sensações' se apresentavam. O movimento ‘Beat'’ era o que havia de mais avançado e vanguardista para essa nova juventude.

O Festival di San Remo que é sempre realizado em final de janeiro, inverno europeu, teve sua grande sensação de 1966 em Caterina Caselli, apresentada por Mike Bongiorno como "la versione feminile dei Beatles", e logo depois apelidada de "Casco d’Oro" porque seu cabelo era como se fosse um "casco" mesmo; uma cópia dos cabelos do Paul McCartney, tingidos de loiro... loiríssimo...

Caterina se apresentou de botinhas até os joelhos... foi arrasador! Caselli tinha Atitude, apresentando-se com um conjunto "beat". Além de "beat", Caterina Caselli - como Rita Pavone anteriormente - era francamente andrógina, embora a palavra ainda não fosse usada na época.

"Nessuno mi può giudicare" apresentada por Caselli (no Brasil foi gravada como "Ninguém me pode julgar" por Jerry Adriani) estourou nas paradas e "Casco d’Oro" era o que tinha de mais moderno. Todo o resto era "passè", inclusive la "nostra Rita", que no 3º ano de sua carreira já tinha se tornado "ultrapassada". Sim, o começo da derrocada da Rita foi essa mudança de "consciência" dei giovanissimi.

Caterina Caselli tinha 'atitude'.

Em 1967, tive a chance de conhecer um jovem italiano que havia imigrado para São Paulo e era "modernissimo". Ele só tinha discos "beat" na sua coleção de 45 rpm! Rita Pavone nem pensar! Ele só falava, pensava e agia "beat"... "Beat" era um estado-de-espirito. I giovanissimi só pensavam em Carnaby Street, Mary Quaint, a inventora da "mini-gonna" (mini-skirt). Nas paginas da revista "Giovani" haviam competições e o premio para os leitores vencedores era "un viaggio a Londra" para conhecer Carnaby Street. "Londra, Londra" muito antes de Caetano Veloso fazer "London, London". 

Veja só o panorama Italiano em 1966:

1."Bang bang" e "Resta" - Equipe 84;
2. "Tema" - I Giganti – super "beat" os rapazes, com barbas por fazer, muitos óculos escuros, ternos super bem acabados, cabelos bem na moda, e muita "pose"... e bota "pose" aí.
3. "Michelle" / "We can work it out" / "Paperback writer" e "Yellow submarine" - i Beatles;
4. "Che colpa abbiamo noi" / "È la pioggia che và" - i Rokes;
5. "These boots are made for walking" - Nancy Sinatra;
6. "Paint it black" e "Con le mie lacrime" ("As tears go by" em italiano) con i Rolling Stones;
7. "Barbara Ann" - i Beach Boys;
8. "Sunny afternoon" con i Kinks.

Você nota pelo panorama que a Italia "giovanissima" havia mudado. No entanto, 1966 não foi um ano ruim para Rita Pavone que apresentou 'Studio Uno '66' lançando 'Fortissimo', um clássico instantâneo. Rita tinha um publico cativo além de estar presente na "telinha" em horário-nobre quando na Itália só haviam duas emissoras de TV, ambas do governo: RAI Uno e RAI Due! Mas os prospectos de Rita não eram grandes, pois o publico jovem estava mudando rapidamente e nossa "Pintadinha" estava sentada em cima do monte igual ao "Fool on the hill" dos Beatles - keeping perfectly still – ficando parada totalmente!

Enquanto isso, Caterina Caselli continuava na parada com "L’uomo d’oro" (talvez lembrando-se de seu próprio cabelo de ouro), "Perdono" e "Cento giorni", todos em 1966. Seu LP foi lançado no Brasil, mas por aqui a musica Italiana já estava dando seu "ciao", pois a Jovem Guarda brasileira dominava os jovens locais! Além do mais, só quem acompanhava a 'cena italiana' através das revistas importadas é que sabia o que estava acontecendo por lá ... e esse público que era cada vez menor! A juventude estava interessada no rock nacional ou nos Beatles & cena britânica-yankee. 

1967 começaria com o suicídio de Luigi Tenco em pleno Festival di San Remo. Parecia que a Musica Italiana morria junto com o Tenco. "Non pensare a me" com Claudio Villa, a vencedora do certame, era um anti-climax, pois Villa representava tudo do que era "velho e carcomido" na musica leggera italiana. Rita Pavone gravou  "Gira gira", versão da magnífica "Reach out, I’ll be there" dos Four Tops e ganhou o Cantagiro com "Questo nostro amore", que era a "sua musica com o Teddy", mas isso já é outra história, que faria parte de um capítulo especial que eu entitularia "A derrocada de Rita Pavone & seu Empresário".

FINE

Só a título de curiosidade: em 1967 eu conheci um rapaz italiano, que morava na Rua Caterina Braida, na Moóca (era assim que ele grafava). Seu pai tinha imigrado p'ro Brasil no final dos anos 50s e tinha uma oficina mecânica. Só conseguiu trazer a família p'ra São Paulo (esposa e três filhos) naquele ano. Ele falava das "maravilhas" do "movimento beat" e me mostrava sua vasta coleção de 45 giri. O programa "Jovem Guarda" era o grande sucesso por aqui desde agosto de 1965. Eu sentia que o jovem italiano desprezava o rock brasileiro embora nunca tenha expressado isso em palavras, pois ele era um "gentleman" italiano. Certo sábado à tarde, eu lhe perguntei se havia alguém ou alguma musica brasileira que ele gostava. Ele pensou longamente e respondeu que de toda aquela "jovem guarda" havia apenas uma musica que era "BEAT"... e essa música era 'É papo firme', o lado B de "Esqueça" (Forget him), cantado pelo Roberto Carlos. Interessante, n'é?

Meu amigo Italiano nunca falou mal da Rita Pavone, mas não tinha um disco sequer da "Pintadinha". Ele era um típico rapaz "beat" ou diria, un ragazzo beat! A familia dele odiava morar no Brasil (pudera!); mal tinham chegado e já estavam se preparando para voltar p'ra lá... e (pasme!) me convidaram para ir junto! Só que em 1968 eu teria que servir o Exército e eles acabaram voltando p'ra Europa sem mim... acabei perdendo o contato com eles... e meu grande "sogno di andarmene in Italia" foi por água abaixo para sempre!

Mas eu não me fiz de rogado e três anos depois fui embora para a "verdadeira" metrópole... New York ou Nuova York ou Nova Iorque! Abusado, não? Paguei tudo com lagrimas de ouro, mas como diz o velho ditado Inglês "No pain, no gain!" (sem dor não há avanço).

'A mamata' (La cuccagna) filme com direção de Luciano Salce, que viveu em São Paulo no pós-Guerra, tendo trabalhado na Cia. Cinematográfica Vera Cruz e no T.B.C. (Teatro Brasileiro de Comedia) tinha o cantor Luigi Tenco - completamente desconhecido no Brasil em 23 Fevereiro 1964 - no principal papel masculino.
Luigi Tenco, Donatella Turri & diretor Luciano Salce na estreia de 'La cuccagna' in 1962.
Luigi Tenco em tempos mais felizes.
o corpo inerte de Luigi Tenco na morgue de San Remo em Janeiro de 1967. A moderna musica italiana morria com ele.
'Ciao amore ciao', Luigi Tenco.
'Che colpa abbiamo noi?' com The Rokes tinha toda a simpatia da chamada geração 'beat' que via nos ingleses a 'salvação' da mesmice peninsular. I Rokes eram expatriados ingleses trazidos para a Itália em 1963 por Teddy Reno para acompanhar Rita Pavone em sua tournee de verão. Radicaram-se em Roma e 3 anos mais tarde já conseguiam suplantar Pavone apelando a uma novíssima geração.

'Ascolta nel vento', 'Che colpa abbimao noi', 'È la pioggia che va' foram todas lançadas em coletâneas da RCA Victor. No entanto a única vzz que The Rokes fizeram realmente sucesso entre os brasileiros foi com 'Piangi con me' em 1967.
Equipe 84 apelava às mentes e corações dos 'giovanissimi'. Eles imitavam em tudo os ingleses e conseguiam produzir um som agradável, principalmente pela altíssima voz peculiar de Maurizio Vandelli, o líder. A Chantecler lançou o LP, que meu amigo Walter prontamente comprou e nós ouvíamos incessantemente, mas como uma ou duas andorinhas não fazem verão, poderia se dizer que a Equipe 84 nunca foi conhecida no Brasil exceto por alguns aficcionados.

No comments:

Post a Comment